terça-feira, 3 de março de 2009

Rezai, pois, assim (Sobre o evangelho de hoje)

De tudo o que diz respeito à oração e a exercícios de devoção, detenhamo-nos apenas nos ritos, ou maneiras de rezar, ensinados por Cristo. É evidente que, quando os discípulos pediram a Nosso Senhor que os ensinasse a rezar (Lc 11, 1), Ele disse-lhes certamente tudo o que era necessário para serem atendidos pelo Pai eterno, cuja vontade conhecia perfeitamente. Ora, não lhes ensinou senão os sete pedidos do Pai Nosso, no qual está contida a expressão de todas as nossas necessidades corporais e espirituais. Não lhes ensinou uma quantidade de orações e de cerimónias; pelo contrário, disse-lhes noutra ocasião que não multiplicassem as palavras, ao rezar, porque o nosso Pai do Céu sabe muito bem aquilo de que temos necessidade. A única coisa que lhes recomendou, com a mais viva insistência, foi que perseverassem na oração, ou seja, na recitação do Pai Nosso. Porque também disse: «É necessário rezar sempre e nunca se cansar» (Lc 18, 1). Assim, Ele não nos ensinou a multiplicar os pedidos, mas a tornar a fazê-los, muitas vezes, com fervor e atenção. Porque, repito, estes pedidos do Pai Nosso encerram tudo o que está de acordo com a vontade de Deus e tudo o que nos é útil. Aí está por que razão, quando o Mestre divino por três vezes Se dirigiu ao Pai eterno, em cada uma delas repetiu as mesmas palavras do Pai Nosso, como reportam os Evangelistas: «Meu Pai, se este cálice não pode passar sem que Eu o beba, faça-se a Tua vontade!» (Mt 26, 42).Quanto aos ritos que devemos seguir na oração, Cristo deu-nos apenas dois: ou «entrar no quarto mais secreto» (Mt 6, 6); ali, longe de todo o ruído e com toda a liberdade, podemos rezar com um coração mais puro e mais despreocupado [...]. Ou então procurar locais solitários, como Ele próprio fazia, para aí orar nas horas mais favoráveis e mais silenciosas da noite (Lc 6, 12).

São João da Cruz (1542-1591), carmelita, Doutor da Igreja

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