segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Bento XVI: amor explica mistério da Trindade

Queridos irmãos e irmãs:
Após o tempo pascal, culminado na festa de Pentecostes, a liturgia prevê estas três solenidades do Senhor: hoje, a Santíssima Trindade; na próxima quinta-feira, a do Corpus Christi, que em muitos países – entre eles a Itália – se celebra no domingo seguinte; e, por último, na sexta-feira da outra semana, a festa do Sagrado Coração de Jesus. Cada uma destas celebrações litúrgicas sublinha uma perspectiva a partir da qual se abrange todo o mistério da fé cristã: respectivamente, a realidade de Deus Uno e Trino, o sacramento da Eucaristia e o centro divino-humano da Pessoa de Cristo. Na verdade, trata-se de aspectos do único mistério da salvação, que de certa forma resumem todo o itinerário da revelação de Jesus, da encarnação à morte e ressurreição, até a ascensão e o dom do Espírito Santo.
Hoje contemplamos a Santíssima Trindade, tal como Jesus a deu a conhecer a nós. Ele nos revelou que Deus é amor “não na unidade de uma só pessoa, mas na Trindade de uma só substância” (Prefácio da Missa da Santíssima Trindade): é Criador e Pai misericordioso; é Filho unigênito, eterna Sabedoria encarnada, morto e ressuscitado por nós; por último, é Espírito Santo que move tudo, o cosmos e a história, até a plena recapitulação final. Três pessoas que são um só Deus, pois o Pai é amor, o Filho é amor, o Espírito é amor. Deus é todo amor e só amor, amor puríssimo, infinito e eterno. Não vive em uma esplêndida solidão; pelo contrário, é fonte inesgotável de vida que incessantemente se entrega e comunica. Podemos intuir isso, de certa forma, ao observar tanto o macrouniverso – nossa terra, os planetas, as estrelas, as galáxias – como o microuniverso – as células, os átomos, as partículas elementares. Em tudo o que existe, encontra-se impresso, em certo sentido, o “nome” da Santíssima Trindade, pois todo o ser, até as últimas partículas, é ser em relação, e deste modo se transluz o Deus-relação; transluz-se, em última instância, o Amor criador. Tudo procede do amor, tende ao amor e se move empurrado pelo amor, naturalmente, segundo diferentes níveis de consciência e de liberdade. “Ó Senhor nosso Deus, como é glorioso teu nome em toda a terra!” (Salmo 8, 2), exclama o salmista. Falando do “nome”, a Bíblia indica o próprio Deus, sua identidade mais verdadeira, identidade que resplandece em toda a criação, na qual todo ser, pelo fato de ser e pelo “tecido” de que está feito, refere-se a um Princípio transcendente, à Vida eterna e infinita que se entrega; em uma palavra, ao Amor. “N’Ele – disse o apóstolo no Areópago de Atenas – vivemos, nos movemos e existimos” (Atos 17, 28). A prova mais forte de que estamos feitos à imagem da Trindade é esta: só o amor nos faz felizes, pois vivemos em relação, e vivemos para amar e para ser amados. Utilizando uma analogia sugerida pela biologia, diríamos que o ser humano tem no próprio “genoma” um profundo selo da Trindade, do Deus-Amor.
Nossa Senhora, em sua dócil humildade, fez-se escrava do Amor divino: acolheu a vontade do Pai e concebeu o Filho por obra do Espírito Santo. Nela, o Onipotente construiu um templo digno d’Ele e fez dela o modelo e a imagem da Igreja, mistério e casa de comunhão para todos os homens. Que Maria, espelho da Trindade Santíssima, ajude-nos a crescer na fé no mistério trinitário.

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