sábado, 14 de fevereiro de 2009

Alguns permanecem surdos aos apelos de Deus

A razão mais sublime da dignidade do homem consiste na sua vocação à união com Deus. É desde o começo da sua existência que o homem é convidado a dialogar com Deus; pois se existe, é só porque, criado por Deus por amor, é por Ele por amor constantemente conservado; nem pode viver plenamente segundo a verdade, se não reconhecer livremente esse amor e se entregar ao seu Criador. Porém, muitos dos nossos contemporâneos não atendem a esta íntima e vital ligação a Deus, ou até a rejeitam explicitamente; de tal maneira que o ateísmo deve ser considerado entre os factos mais graves do tempo actual.
Enquanto alguns ateus negam expressamente Deus, outros pensam que o homem não pode afirmar seja o que for a Seu respeito; outros ainda, tratam o problema de Deus de tal maneira, que ele parece não ter significado. Muitos, ultrapassando indevidamente os limites das ciências positivas, ou pretendem explicar todas as coisas só com os recursos da ciência, ou, pelo contrário, já não admitem nenhuma verdade absoluta.Outros concebem Deus de uma tal maneira, que aquilo que rejeitam não é de modo algum o Deus do Evangelho. Outros há que nem sequer abordam o problema de Deus: parecem alheios a qualquer inquietação religiosa e não percebem por que motivo se devem ainda preocupar com a religião. Além disso, o ateísmo nasce muitas vezes dum protesto violento contra o mal que existe no mundo.
Não se deve passar em silêncio, entre as formas actuais de ateísmo, aquela que espera a libertação do homem sobretudo da sua libertação económica.
A Igreja, consciente da gravidade dos problemas levantados pelo ateísmo e levada pelo amor que tem a todos os homens, entende que eles devem ser objecto de um exame sério e profundo. A Igreja defende que o reconhecimento de Deus de modo algum se opõe à dignidade do homem, uma vez que esta dignidade se funda e se realiza no próprio Deus. Com efeito, o homem, ser inteligente e livre, foi constituído em sociedade por Deus Criador; mas é sobretudo chamado a unir-se a Deus como filho e a participar na Sua felicidade.


Fonte
Concílio Vaticano II «Gaudium et Spes», Constituição Dogmática sobre a Igreja no mundo actual, §§ 19-21



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