quarta-feira, 15 de julho de 2009

“Caritas in veritate”: um documentário moral, não político

Muito antes da “esquerda” e da “direita”, estava o Evangelho, e muito depois de que essas etiquetas políticas tenham caído no esquecimento, o Evangelho permanecerá. À luz disto, é sumamente importante que recebamos a encíclica do Papa Bento XVI Caritas in veritate como um document o que deverá informar nossa perspectiva. Podemos resumir assim o pensamento do Papa sobre a economia: cada um de nós deve responder à pergunta de Cristo: “Quem dizeis que eu sou?”. Se nós, com Pedro, respondemos “O Messias”, então isto deve dirigir o eixo de nossa vida. Nossa realidade mais importante deve ser a verdade de nossas relações. Neste sentido, podemos entender como a lei e os profetas poderão resumir-se em dois mandamentos de Cristo: que amemos a Deus com todo nosso coração e aos demais como a nós mesmos. Assim somos capazes de falar de Caritas in veritate. Desde o momento em que aceitamos Cristo e esses dois mandamentos, já não podemos voltar a formular a pergunta de Caim: “Acaso sou eu o guardião de meu irmão?”. Em seu lugar, devemos compreender qu e nosso exercício da liberdade não pode tomar a forma de uma simples acumulação do máximo de riqueza que possamos. Ao contrário, tudo o que nós fazemos livremente deve refletir essa realidade e devemos ter em conta, em todas nossas ações, seus efeitos sobre os demais. Não precisamos ir além das duas primeiras palavras do Pai Nosso, que Bento XVI cita ao final deste documento, para ver a família humana comum à que pertencemos.

Com esta finalidade, devemos recordar alguns fatos importantes:

Em primeiro lugar, nós não devemos perguntar-nos como esta encíclica respalda nossa visão do mundo, mas ao contrário, como nossa visão do mundo deve mudar em resposta a este documento. Os comentaristas devem evitar a tentação de tentar analisar a encíclica a partir de suas próprias perspectivas ou através de uma visão política. As teses do Papa deixam claro que um fundamento ético deve transcender a política e, como aparece explícito no documento, as soluções técnicas pertencem aos atores políticos. Em segundo lugar, o mundo merece uma economia de mercado com consciência, tal e como os eventos da economia global deixaram claro no ano passado. Em 1985, o Papa Bento XVI criticou o marxismo em um documento, por excluir tanto Deus como uma adequada função humana e, portanto, por ser “determinista” demais. Também advertiu que as economias de mercado corriam o mesmo risco de colapso se também excluíssem ou ignorassem o componente ético da tomada de decisões individuais. Realmente, os acontecimentos recentes confirmaram sua conclusão e, portanto, esta encíclica, e seu chamado por um sistema moral, são acima de tudo irresistíveis. Em terceiro lugar, enquanto o debate mundial se centra nas soluções técnicas para a crise econômica, o Papa Bento XVI está nos pedindo que voltemos a avaliar o próprio fundamento de nosso sistema. Também que construamos sobre a rocha dos valores éticos ao invés de ser sobre a areia do determinismo. Em quarto lugar, o Papa nos chamou a uma realidade econômica que deve respeitar a vida de todas as pessoas, inclusive as menores e mais necessitadas. Isto é notável e oportuno por sua vez, como o é sua indicação sobre a necessária função que a religião deve desempenhar no espaço público. Em quinto lugar, esta encíclica é tanto um documento Católico como um docu mento católico. Vê-la a partir do ponto de vista puramente nacional seria tão equivocado como vê-la a partir de um ponto de vista político. Por exemplo, sobre a exortação do Papa por uma “redistribuição” justa, não se pode indicar nenhum país que não distribua a riqueza de seus cidadãos de alguma maneira.O Papa pergunta se, independentemente do país, isto se faz com justiça. O que acontece em países de economia flutuante, com um nível de vida muito além do que muitos do mundo podem imaginar, deve ser refletido. Certamente temos a responsabilidade de ajudar nossos vizinhos. Podemos e devemos fazer mais. Mas não somos os únicos. É justo que um “presidente” de um país em um pobre lugar do mundo deposite bilhões de dólares em u ma conta de um banco suíço, enquanto seu povo vive com um dólar ao dia? É justo que uma população morra de fome enquanto uma oligarquia aumenta sua riqueza? Realmente, todos temos direito a comer e aos serviços básicos. Um cristão deve ser uma pessoa para os demais. E mais, não só os cristãos, mas todo o mundo está chamado a viver desta maneira. Durante muito tempo, muitas pessoas se comportaram como se devessem lealdade somente a si mesmos. Todos vimos os resultados dessa conduta e sabemos que é um modelo pobre, ética e economicamente. Agora, as pessoas estão buscando uma bússola moral e sabem que o Papa Bento XVI tem uma. Mas se uma bússola pode assinalar o caminho, segui-lo depende de nós.

Fonte: Zenit.org

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