sábado, 20 de junho de 2009

A Igreja é só dos Padres?

Há mais de vinte anos, lembro-me de ter escrito, com este mesmo título, pequeno artigo no saudoso “Compasso”. Para quem sabe que a Igreja é comunhão, a saber: união comum das pessoas que têm a mesma fé e vivem, à luz do Evangelho e do Espírito Santo sob a jurisdição do próprio bispo, é fácil compreender que a Igreja não é só dos padres.
Hoje, pela extensão territorial ou pela enormidade dos prédios de arranha-céus, fica difícil fazer da paróquia verdadeira comunidade de fé e de amor fraterno, sob a orientação pastoral do pároco.
A paróquia, pelo que a Igreja ensina e deseja, é comunidade de pessoas – uma família de Deus – não uma ignota massa humana. O ideal é transformá-la em colméia ativa, centro animador de agentes leigos, compenetrados de sua honrosa missão de apóstolos.
É sob este foco animador de tarefas bem distribuídas que o padre tem uma insubstituível função. Se a paróquia se renova ou já se renovou em necessária comunhão de pessoas, todas imbuídas de sua missão de apóstolos, isto é, de ministros não-ordenados, o papel do padre será o de animador e líder desta colméia alegre, laboriosa e diversificada. Parece-me este o ideal do Papa Paulo VI na “Evangelii Nuntiandi” (nos 70 e 73). Assim idealmente instalada, o padre tem seu nobre papel de inspirador, animador, testemunha e coordenador da comunidade de leigos.
Não sei se é necessário lembrar que os fiéis convictos de sua responsabilidade laical e de sua missão na messe de Senhor, não podem apresentar-se como donos da igreja, como também não o é o padre. Mas sim apóstolos por força do sacramento da crisma já recebida no e portanto apóstolos leigos no mundo. Assim colocada a doutrina eclesiológica, a resposta ao provocante título deste artigo se torna clara como o sol. O dono da Igreja só pode ser o Senhor Jesus.
Igreja viva, Igreja – comunhão não será só do padre. Só se pode sentir a vida de uma comunidade, se nela florescerem vários carismas, muitos apóstolos dedicados, sob a liderança do padre, que o bispo colocou à frente da comunidade enriquecida de carismas vários. É o esforço pastoral do padre que se vai exigir para este ideal eclesiológico atual: Igreja comunidade fraterna e apostólica, tendo à frente o padre servidor e dedicado.

Dom Benedicto de Ulhôa Vieira

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