quinta-feira, 9 de abril de 2009

Quinta-feira Santa

A liturgia da Quinta-feira Santa é um convite a aprofundar concretamente no mistério da Paixão de Cristo, já que quem deseja seguí-lo deve sentar-se á sua mesa e, com o máximo recolhimento, ser espectador de tudo o que aconteceu na noite em que iam entregá-lo.E por outro lado, o mesmo Senhor Jesus nos dá um testemunho idôneo da vocação ao serviço do mundo e da Igreja que temos todos os fiéis quando decide lavar os pés dos seus discípulos. Neste sentido, o Evangelho de São João apresenta a Jesus ' sabendo que o Pai pôs tudo em suas mãos, que vinha de Deus e a Deus retornava', mas que, antes cada homem, sente tal amor que, igual como fez com seus discípulos, se ajoelha e lava os seus pés, como gesto inquietante de uma acolhida inalcansável. São Paulo completa a representação lembrando a todas as comunidades cristãs o que ele mesmo recebeu: que aquela memorável noite a entrega de Cristo chegou a fazer-se sacramento permanente em um pão e em um vinho que convertem em alimento seu Corpo e seu sangue para todos os que queiram recordá-lo e esperar sua vinda no final dos tempos, ficando assim instituída a Eucaristia. A Santa Missa é então a celebração da Ceia do Senhor na qual Jesus, um dia como hoje, na véspera da sua paixão, " enquanto ceava com seus discípulos tomou o pão..." (Mt 26,26).Ele quis que, como em sua última Ceia, seus discípulos se reunissem e se recordassem d'Ele abençoando o pão e o vinho: " Fazei isto em memória de mim" (Lc. 22,19).Antes de ser entregue, Cristo se entrega como alimento. Entretanto, nesta Ceia, o Senhor jesus celebra sua morte: o que fez, o fez como anúncio profético e oferecimento antecipado e real da sua morte antes da sua Paixão. Por isso " quando comemos deste pão e bebemos deste cálice, proclamamos e morte do Senhor até que ele volte" (1 Cor11,26).Assim podemos afirmar que a Eucaristia é o memorial não tanto da Última Ceia e sim da Morte de Cristo que é senhor e "Senhor da Morte",isto é, o Ressuscitado cujo regresso esperamos de acordo com a promessa que Ele mesmo fez ao despedir-se: " Um pouco de tempo e já não me vereis, mais um pouco de tempo ainda e me vereis" (Jo. 16,16).Como diz o prefácio deste dia: "Cristo verdadeiro e único sacerdote,se ofereceu como vítima de salvação e nos mandou perpetuar esta oferenda em sua comemoração". Porém esta Eucaristia deve ser celebrada com características próprias: como Missa " na Ceia do Senhor".Nesta Missa, de maneira diferente de todas as demais Eucaristias, não celebramos " diretamente" nem a morte, nem a ressurreição de Cristo.Não nos adiantamos á Sexta-feira Santa nem á noite de Páscoa. Hoje celebramos a alegria de saber que esta morte do Senhor, que não terminou no fracasso mas no êxito, teve um por quê e um para quê: foi uma "entrega", um "dar-se", foi "por algo" ou melhor dizendo "por alguém" e nada menos que por "nós e por nossa salvação".Por isso esta Eucaristia deve ser celebrada o mais solenemente possível, porém, nos cantos, na mensagem, nos símbolos, não deve ser nem tão festiva nem tão jubilosamente explosiva como a Noite de Páscoa, noite em que celebramos o desfecho glorioso desta entrega, sem a qual tivesse sido inútil; tivesse sido apenas a entrega de alguém mais que morre pelos pobres e não os liberta.Porém não está repleta da solene e contrita tristeza da Sexta-feira Santa, porque o que nos interessa "sublinhar" neste momento, é "o Pai entregou o Seu Filho para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna" (Jo 3,16) e que o Filho entregou-se voluntariamente a nós apesar de que fosse através da morte em uma cruz ignominiosa.Hoje a alegria e a Igreja rompe a austeridade quaresmal cantando o"glória": é a alegria de quem se sente amado por Deus; porém ao mesmo tempo é sóbria e dolorida, porque conhecemos o preço que Cristo pagou por nós.Poderíamos dizer que a alegria é por nós e a a dor por Ele. Entretanto predomina o gozo porque no amor nunca podemos falar estritamente de tristeza, porque aquele que dá e se entrega com amor e por amor, o faz com alegria e para dar alegria.Hoje inicia a festa da "crise pascoal", isto é, da luta entre a morte e a vida, já que a vida nunca foi absorvida pela morte mas sim combatida por ela. A noite do sábado de glória é o canto á vitória porém tingida de sangue, e hoje é o hino á luta mas de quem vence,porque sua arma é o amor. Aproveite bem este dia, abra seu coração, e deixe o Senhor fazer de você um Sacrário vivo.


Maria Pereira.

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