terça-feira, 8 de junho de 2010

O rosto de Deus

Após a celebração do tempo pascal, iniciamos o Tempo Ordinário do Ano Litúrgico. E começamos por refletir sobre o vulto de Deus que Jesus nos revelou: o mistério de Deus uno e trino, Pai, Filho e Espírito Santo. Mistério que nos diz respeito pessoalmente como nos diz o apóstolo Paulo: “Nele vivemos, nele nos movemos e somos”.

O encontro com Deus dá-se no âmbito de nossa consciência, nosso coração e se traduz tantas vezes em encontros da comunidade, de nossas famílias, lembrados da palavra de Jesus que nos diz: “Onde dois ou mais se reúnem em meu nome, eu estarei no meio deles”.

Deus se revelou a nós na criação: todas as criadas falam de Deus. Manifestou-se na história da salvação que teve como protagonista inicial o povo eleito de Israel, instruído e guiado pelos profetas. Finalmente, fez-se reconhecer no Verbo encarnado , em Cristo Jesus.

E continua apresentar-se a nós nas assembléias da Igreja, em torno ao altar onde o Senhor Jesus nos acolhe como outrora reunia consigo os seus discípulos.

A atenção da criatura humana ao rosto de Deus é compreensível e foi crescendo ao longo dos séculos: com a atração do coração humano para tudo que nos supera e àquele que nos atrai: com Abraão, pai do Povo eleito, “nosso pai na fé”; com os profetas educadores de seu povo; com os salmistas com a intuição da presença de Deus no mundo exprimindo-se na forma poética.

A leitura do livro dos Provérbios 8,22-31 é como um hino à criação. Deus está na origem de tudo. A Sabedoria, realidade misteriosa, junto de Deus desde sempre, antes de toda sua obra; quando Deus projeta os fundamentos da terra, como um arquiteto na construção do mundo, “encontra as suas delícias em estar entre os filhos do homem.”

O mundo não surgiu do acaso, mas de um projeto sapiente. Deus não joga na sorte, dizia Albert Einstein. A contrario, na criação empenha a sua sabedoria. Os primeiros cristãos, relendo esta passagem poética da Bíblia, e outros semelhantes, concluíram que nesta Sabedoria está a evidente referência ao Verbo de Deus que se encarnou, Jesus Cristo.

O evangelho de hoje, João 16,12-15, traz um fragmento do longo discurso proferido por Jesus a seus apóstolos, à tarde da Quinta Feira Santa, no Cenáculo. Momento do adeus. Todos comovidos pois o amavam. Chegou a hora de deixá-lo. Jesus havia lhes falado diversas vezes do Pai, procurando desvelar o seu rosto, mas era um discurso difícil para os apóstolos. “Muitas coisas tenho ainda para dizer-vos, mas neste momento não sois capazes de suportar o seu peso”. Os apóstolos eram plenos de boa vontade, simples, empregavam tanto tempo para compreender.

Com a morte e ressurreição do Senhor, começaram a abrir os olhos e mais ainda compreenderão depois de Pentecostes, com a vinda do Espírito Santo. Na última Ceia lhes anunciou: “Virá o Espírito da verdade e vos guiará à verdade toda inteira”.

Assim o Espírito de Jesus, dado à Igreja, guiou pouco a pouco a humanidade a conhecimentos vertiginosos sobre Deus. Levou-nos a compreender que ele é amor do Pai; que a encarnação do Verbo derrubou a barreira entre o espiritual e o material para unir-nos a ele; que agora ajuda o homem a levantar-se acima do peso do corpo. E isso mediante o Espírito Santo, o qual habita em nós, e nos aconselha, sugere o que é sábio pensar e fazer.

Na carta aos Romanos 5,1-5, Paulo em certo sentido tirou as conclusões para nós: por meio de Jesus nós temos a fé e a paz com Deus, e a esperança em uma vida sem fim. Descobrimos que Deus habita em nós, conosco. Jesus, na quinta feira santa, disse ainda aos apóstolos: “Se alguém me ama, observará a minha palavra”; depois explicou as conseqüências: “e meu Pai o amará, e nós viremos a ele, e faremos morada junto dele” (João 14,23).

O mistério da Trindade foi comparado ao sol. Não conseguimos olhar o sol, porque nos deslumbra. Porém o sol ilumina tudo, e nos permite dever o mundo. Assim, para o cristão, o mistério da Trindade permanece imperscrutável. Mas ao mesmo tempo ilumina toda a nossa vida, e oferece um significado e dá uma orientação ao nosso agir.

Cardeal Geraldo Majella Agnelo

Fonte CNBB

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