
Com esta finalidade, devemos recordar alguns fatos importantes:
Em primeiro lugar, nós não devemos perguntar-nos como esta encíclica respalda nossa visão do mundo, mas ao contrário, como nossa visão do mundo deve mudar em resposta a este documento. Os comentaristas devem evitar a tentação de tentar analisar a encíclica a partir de suas próprias perspectivas ou através de uma visão política. As teses do Papa deixam claro que um fundamento ético deve transcender a política e, como aparece explícito no documento, as soluções técnicas pertencem aos atores políticos. Em segundo lugar, o mundo merece uma economia de mercado com consciência, tal e como os eventos da economia global deixaram claro no ano passado. Em 1985, o Papa Bento XVI criticou o marxismo em um documento, por excluir tanto Deus como uma adequada função humana e, portanto, por ser “determinista” demais. Também advertiu que as economias de mercado corriam o mesmo risco de colapso se também excluíssem ou ignorassem o componente ético da tomada de decisões individuais. Realmente, os acontecimentos recentes confirmaram sua conclusão e, portanto, esta encíclica, e seu chamado por um sistema moral, são acima de tudo irresistíveis. Em terceiro lugar, enquanto o debate mundial se centra nas soluções técnicas para a crise econômica, o Papa Bento XVI está nos pedindo que voltemos a avaliar o próprio fundamento de nosso sistema. Também que construamos sobre a rocha dos valores éticos ao invés de ser sobre a areia do determinismo. Em quarto lugar, o Papa nos chamou a uma realidade econômica que deve respeitar a vida de todas as pessoas, inclusive as menores e mais necessitadas. Isto é notável e oportuno por sua vez, como o é sua indicação sobre a necessária função que a religião deve desempenhar no espaço público. Em quinto lugar, esta encíclica é tanto um documento Católico como um docu mento católico. Vê-la a partir do ponto de vista puramente nacional seria tão equivocado como vê-la a partir de um ponto de vista político. Por exemplo, sobre a exortação do Papa por uma “redistribuição” justa, não se pode indicar nenhum país que não distribua a riqueza de seus cidadãos de alguma maneira.O Papa pergunta se, independentemente do país, isto se faz com justiça. O que acontece em países de economia flutuante, com um nível de vida muito além do que muitos do mundo podem imaginar, deve ser refletido. Certamente temos a responsabilidade de ajudar nossos vizinhos. Podemos e devemos fazer mais. Mas não somos os únicos. É justo que um “presidente” de um país em um pobre lugar do mundo deposite bilhões de dólares em u ma conta de um banco suíço, enquanto seu povo vive com um dólar ao dia? É justo que uma população morra de fome enquanto uma oligarquia aumenta sua riqueza? Realmente, todos temos direito a comer e aos serviços básicos. Um cristão deve ser uma pessoa para os demais. E mais, não só os cristãos, mas todo o mundo está chamado a viver desta maneira. Durante muito tempo, muitas pessoas se comportaram como se devessem lealdade somente a si mesmos. Todos vimos os resultados dessa conduta e sabemos que é um modelo pobre, ética e economicamente. Agora, as pessoas estão buscando uma bússola moral e sabem que o Papa Bento XVI tem uma. Mas se uma bússola pode assinalar o caminho, segui-lo depende de nós.
Fonte: Zenit.org
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